Texto de Sabrina Marques
Um pequeno ensaio!!
Este texto é parte do meu TCC... uma das muitas coisas que já escrevi sobre cultura desde que comecei minha vida acadêmica, que diga-se de passagem foi só o que estudei :P... para quem interessar: APROVEITEM!! Se quiserem... OPINEM, e me AJUDEM nesse novo estudo!!
Cultura e Identidade
Cada povo, cada sociedade se identifica por costumes, ritos, alguns mitos, crenças e sua maneira de viver. É difícil que exista um povo que não tenha identidade. Por mais simples e imperceptível que seja ela existe e está diretamente ligada a cultura desenvolvida por esta sociedade.
“Identidades culturais são aqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nosso “pertencimento” a culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais” (Hall, 2000, 8).
Numa sociedade, a maneira de ser, de se comportar, de agir, e de ritualizar foi elaborada lentamente e funciona de modo quase inconsciente. Esse modo de viver é o que conhecemos como cultura, “um sistema de agir e interagir, um sistema de crenças, valores de organização artística, científica e educacional, social, política, bem como de atividades econômicas” (Carvalho, 2003, 96).
Entende-se então que são valores, costumes, maneiras, conhecimentos, situados geográfica e temporalmente, ou seja, dentro do contexto histórico, é um espaço de construção do simbólico.
Segundo Carvalho (2003), palavra cultura designa, ao mesmo tempo, o modo de vida cotidiano de uma sociedade (o saber comum) – questão que será abordada com mais profundidade neste estudo – e também a vida intelectual e artística (saber erudito) do indivíduo. É importante ressaltar que uma está fortemente ligada a outra pois o indivíduo não se forma apenas com uma ou outra cultura, e sim com o complemento das duas, pois segundo a autora, o saber comum (a vida cotidiana) seria o espírito do povo a que pertence esse homem, e o pensado (erudito) nasce do impensado (saber comum), onde o primeiro retira sua essência.
Sendo assim, pode-se dizer que a cultura nasce das diferentes relações da pessoa com o ambiente que a rodeia. Relações estas com: a natureza, onde o espaço natural se transforma em um espaço cultural. Com ela mesma, quando descobre e aceita as características próprias e ouve a consciência. O relacionamento com o próximo, pois aprende-se com o outro, ensina-se ao outro, faz-se “acordos” em nome da coletividade, ou seja, espaço cultural da sociedade. E com Deus, que ocasionou e ocasiona ainda o surgimento de religiões que buscam a relação do homem com o transcendente.
Como destaca Piedras (2002, p.8) “os homens transformam o mundo por suas ações, mas sempre reproduzindo partes do sistema de símbolos criado por eles anteriormente”. Isso demonstra o caráter dinâmico da cultura, que está sempre em transformação.
Tal cultura constrói uma identidade coletiva que põe em relevo o inconsciente coletivo. Porém, antes disso deve-se pensar que uma sociedade é formada por indivíduos e que a questão de identidade ou pelo menos seu estudo, parte a princípio destes membros.
Para começar será visto a identidade através da sua definição a partir de indivíduos, através das idéias de Hall (2000).
O Iluminismo trata a identidade do sujeito como seu centro essencial, ou seja, o seu caráter, o seu “eu” interior, o que nasce com o indivíduo e vai se desenvolvendo com o passar dos anos, porém permanecendo essencialmente o mesmo ao longo de sua existência.
Com certeza carregamos conosco características que nos distinguem das demais pessoas, mas não podemos dizer que elas formam nossa identidade e que não mudarão nunca. Principalmente nos tempos atuais, as mudanças que ocorrem ao nosso redor, afetam nossa vida diretamente, e a globalização faz com que cada vez mais conceitos sejam impostos, mudados ou ultrapassados. Então, esta percepção de identidade como interior apenas é pouco aceitável e até mesmo incompleta.
Para o autor, existe também a concepção de identidade do sujeito sociológico – que cabe bem a este estudo.
“A identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem.” (Hall, 2000, p.11)
Partindo desta definição entende-se que o indivíduo necessita da sociedade – assim como o contrário – para que seja estabelecida uma identidade. Eu, como indivíduo me projeto a essa sociedade, ao mesmo tempo que interiorizo valores e significados dela – voltamos então a questão da cultura – que passam a fazer parte de mim.
“No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma metafórica. Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial.” (Hall, 2000, 47).
Como foi visto anteriormente, estas culturas nascem da relação dos homens com ele mesmo e com o ambiente externo. Estas relações produzem elementos denunciadores de cada cultura.
Dentre os elementos que são criados podemos citar: os objetos, que apesar de hoje ter uma produção mais globalizada, ainda existe estilos próprios de cada cultura, como a Cuia[13], elemento marcante da cultura do Rio Grande do Sul. Os valores, postura, comportamento, ou seja, o perfil de cada povo. As estruturas da sociedade, como vemos nas famílias patriarcais e nas relações chefe – empregado. E as expressões, que é toda a comunicação que um povo tem, sua linguagem, sua música, sua arte.
A cultura de um povo, sua identidade, é passada de geração à geração, e dependendo da intensidade e da influência, dificilmente ela se deteriora. Dizer que existe uma cultura que nos dias de hoje permanece a mesma desde os seus primórdios é muito difícil, pois diversos fatores contribuem para a sua transformação. Ela pode seguir fiel a seus princípios e valores, mas com certeza teve modificações ao longo do tempo.
Segundo Jacks (2003, 18) “cultura é da ordem da práxis e está ligada a vivência cotidiana. É fruto da ação, a qual dá orientação e significação para as representações simbólicas”.
A maneira como vive um povo, o que o identifica é o que se entende por cultura. Dentro de um mesmo país são percebidas diferentes culturas, que geralmente são demarcadas pela região onde se vive ou pelos ancestrais que ali habitaram em tempos passados, fundando a sociedade em questão com uma determinada identidade.
“Por constituírem expressões sociais, as manifestações culturais também se apresentam segmentadas, ou seja, divididas e hierarquizadas, assim como os diferentes grupos que compõem a sociedade” (Piedras, 2002, p.11)
No Brasil, por ser um país que recebeu vários imigrantes, percebemos diferentes culturas que mescladas foram formando novas culturas características deste povo tão miscigenado[14].
No sul, especialmente no Rio Grande do Sul, onde tivemos uma colonização em geral portuguesa e espanhola – com exceção de algumas regiões que foram colonizadas por alemães e outras italianos – a identidade do povo através da sua cultura é muito forte. Em poucos estados do país vemos cultura e tradição tão explícitas e resistentes ao mundo atual e a globalização.
[13] Do Tupi, fruto da cuieira. Também conhecido como porongo, é o vaso feito desse fruto maduro depois de esvaziado do miolo. No caso do Rio Grande do Sul – quase sempre ricamente prateada e lavrada – é onde se prepara e se bebe o mate por meio de uma bombilha.
[14] Em sua origem o Brasil parte de três culturas diferentes: a européia (ocidental cristã), a indígena (primeiros habitantes) e a africana (escravidão).
Referências:
Referências:
CARVALHO, Nelly de. Publicidade: A linguagem da sedução. São Paulo, SP: Editora Ática, 2003.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, RJ: DP&A Editora, 2000.
JACKS, Nilda. Mídia Nativa: Indústria Cultural e Cultura Regional. Porto Alegre, RS: Universidade/UFRGS, 2003.
PIEDRAS, Elisa Reinhardt. Publicidade e cultura no Brasil: Apropriações e construções mútuas. Pelotas: Trabalho de conclusão (Hab. Publicidade e Propaganda): UCPEL, 2002.
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