quarta-feira, 27 de abril de 2011

Homenagem: Rui Biriva, o chê loco

Homenagem: Rui Biriva, o chê loco

Em texto de 2008, tradicionalista Antonio Augusto Fagundes saúda o amigo

Está previsto para esta quarta-feira (dia 27), em Horizontina, o sepultamento do corpo do cantor e compositor nativista Rui Biriva, que morreu na noite de segunda-feira em Porto Alegre, em decorrência de um câncer.

A morte de Biriva, aos 53 anos, comoveu o Rio-Grande do Sul por ser ele um de seus artistas mais populares e carismáticos. Amigos e fãs de Biriva na Capital fizeram sua despedida nesta terça-feira, durante o velório na Câmara de Vereadores.

Em sua homenagem, o Segundo Caderno reproduz um texto de Antonio Augusto Fagundes, de abril de 2008, no qual o tradicionalista saudava o amigo lembrando as origens e a ascensão de Biriva como um dos grandes nomes da música gaúcha.

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Há vinte e tantos anos, em Lajeado, eu comandava uma festa gauchesca e alguém queria que um cantor do Interior se apresentasse. O rapaz não tinha violão e estava visivelmente contrariado. Para se livrar da insistência ele impôs: "Só canto se o Antonio Augusto Fagundes me apresentar". Eu olhei aquele alemão grandalhão e meio antipático, mas como a insistência era grande, floreei a apresentação e lasquei: "E com vocês, Rui Leonhardt!". 

Pouca gente aplaudiu quando ele, contrariado e meio nervoso, subiu ao palco. Mas aí ele começou a cantar com voz poderosa, cada vez mais entusiasmado. O alemão bateu tanto no violão que afundou o tampo do instrumento, quebrando tudo – expressão que mais tarde ele iria popularizar. Estava nascendo ali um grande artista. E estava nascendo também uma grande amizade, sentimento que até hoje me une ao Rui. 
O Rui da Silva Leonhardt nasceu em Horizontina, terra de homens feios e mulheres bonitas – estão aí o Rui e o Luiz Kur, por um lado, e a Gisele Bündchen, por outro, para confortar a assertiva.

Os pais do Rui foram o seu Adalibio e a dona Malvina, e o Rui é o caçula de três irmãos. Até os 10 anos viveu no Distrito da Esquina Eldorado, de onde saiu para morar na cidade e participar dos festivais estudantis de música. O Rui tem o gauchismo no berço: o pai, que era músico, mandava no CTG Peão do Alto Uruguai. 

Aos 14 anos, vence o Festival Estudantil da Canção e durante dois anos faz parte do grupo Magia Som cantando... em inglês! Muda-se para o Paraná, passa para São Paulo, onde estuda canto e teatro. A política traz o Rui de volta para Horizontina, de onde sai para Brasília, como assessor do deputado Irineu Colato. Não se dá bem na Capital Federal sem bares e sem esquinas e vem para Porto Alegre. Aqui na Assembleia conhece Airton Pimentel, e deste autor defende a canção Birivasna Seara da Canção de Carazinho. O sucesso foi enorme e, como ninguém sabia como pronunciar o nome alemão do Rui, ele ficou sendo Rui Biriva até hoje. 

De lá para cá, não parou mais de se premiar em festivais. Gravou 14 discos, casou com Priscila Dutra, e os dois são pais do Gerônimo. Fez sucesso em Portugal, e canções suas são cantadas por Djavan, Daniela Mercury, Os Nativos, Os Serranos, Oswaldir e Carlos Magrão, Gaúcho da Fronteira e outros. Como cantor, seus maiores sucessos são Tchê Loco, Quebrando Tudo, Canção do Amigo e muitas outras. O Rui Biriva é um artista realizado. Duvido que alguém não se emocione com a beleza da sua voz e a emoção que coloca na interpretação de Santa Helena da Serra.

::: Por Antonio Augusto Fagundes(texto originalmente publicado em 19 de abril de 2008)

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