sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Poema Rodeio de Altair Job de Borba


Desenho de Attila Sá Siqueira

Brilha o lucero... madrugada alta...
Canto de galo compassando as horas
Mascar de freios... tilintar de esporas...
Cuscos... latidos... gritos.... algazarra...
Um novo dia despontando a barra;
Tição projeta sombras ondulantes
E a gauchada, no galpão, radiantes,
Vai para o pingo lhe assentar as garras.

E vão montando, confusão tremenda,
A cachorrada a retoçar na frente;
A vaca mansa olha indiferente,
Num ruminar constante, sonolenta,
A barulheira, que por fim se ausenta.
Um pardo velho, busca a volta, o jeito
E o zaino negro sai mordendo o peito,
Enquanto um baio vai sonando a venta.

Chegam ao potreiro ainda lusco-fusco,
No trajeto as ordens foram dadas
E desdobrando coxilhas essa indiada,
Entre assovios afastam-se ao tranquito.
Revoa baixo um quero-quero aflito;
Flecos cantando, laço a bate-cola,
Mãos ocupadas que um cigarro enrola
E um poncho curto pra espantar mosquito.

Gritos... latidos... berros e mugidos,
E, enquanto o sol vai repontando a lua,
Surgem na costa ou na coxilha nua,
Pontas de gado de bonita estampa;
Estalar de cascos, refulgir de guampas;
Sereno grosso lagrimeando o dia;
Vaca atropela defendendo a cria
E o berro forte de um touraço pampa.

De toda parte vão chegando os lotes
Para o rodeio, na coxilha grande;
Berraçada infernal onde se ande,
Vacas, terneiros, touros, bois de canga;
No baixo um guasca apeia e se arremanga,
Lava a cara, bebe água debruçado,
E um cusco, língua de fora e assolhado
Refresca o corpo na campeira sanga.

Ajeitam-se os arreios e inicia
A cura no umbigo dos terneiros;
Indiada acostumada, homens campeiros,
Enquanto um laça o outro cuida a vaca;
O cachorro ovelheiro late e ataca;
Um peão faz com o dedo uma faxina,
Bota esterco de cavalo e creolina,
E, corta a ponta da cola com a faca.

Dois touros brigam pra tirar a teima,
Um quadro vivo emuldurando a pampa;
Entrechoque de músculos e guampas,
Deixando as vezes um trilhar nefasto;
Um meio usado já com o dente gasto
E cuja raça só orgulha o dono
Leva vantagem defendendo o trono,
Vertendo sangue e esmagando o pasto.

Serviço feito, afina-se o rodeio,
O pelo suado lhes dá novo brilho;
Vacas que berram procurando o filho,
Que por ser mui novo se tresmalha;
E o capataz, gaucho que não falha
Numa contagem, sem ter sestro ou medo,
Cada cincoenta movimenta o dedo,
Pra dedilhar o marcador de talha.

E o gado segue, cada qual seu rumo,
Buscando a costa, banhadal, canhadas,
Um outro lote procurando aguadas,
Vai ruminando num passito lento;
Reina o silêncio - cessa o movimento.
A gauchada alegre, um sol que arde,
Segue pra estância, pois ao cair da tarde
O laço volta a se soltar dos tentos

"Enviado por: Eliezer Dias de Sousa"



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