sábado, 7 de janeiro de 2012

Eron Vaz Mattos, Depois dos Galpões


Sempre aparece de manso
num cotovelo de esquina
de uma avenida, no centro;
Além da estampa e o andar,
um rodeio de memórias
lhe traz pilchado por dentro.

Expressão entardecida
nos seus invernos finais;
Qual um velho cinamomo
arrancado do seu chão
onde deixou os sinais
das, bem cravadas, raízes
e a seiva melhor do lenho
na paisagem do galpão.

É como as sangas de campo,
a percorrer o caminho,
na obediência de rumo,
entre as barrancas do leito;
Que andou por várzeas e pedras,
por cachoeiras e remansos,
juntando areias nas praias
para os alentos do peito.

Sim,
igual as sangas de campo
que depois de tantas curvas
com minuanos e tormentas,
estios, mormaços e chuvas;
Chegando à foz do destino
com ressacas e águas turvas!

Dizem alguns do seu tempo
que o conheceram melhor;
Que desde o fole das gaitas
aos lombos ágeis dos potros
ou no pontear das guitarras
era o exemplo maior.

Ao vê-lo, me faz lembrar,
desmamado dos galpões,
longe das suas verdades;
Um par de arreio judiado
desses que trazem pra'os palcos,
junto às luzes multicores,
para enfeitar as vaidades!

Vez por outra, machucado,
tonteia alguma esperança
que ainda traz, ocupado
pelos tropeços da sina;
Mergulhando o olhar atento.
iludindo o pensamento,
namorando inatingíveis
expostos pelas vitrinas.

Já o vi deter a marcha
frente a uma estátua imponente,
de um vulto grande da história,
que o bronze frio perpetuou;
E ali empina as retinas
com olhos de domador,
analisando a moldura
daquele flete tão lindo:
"Padrilho", anca redonda,
as orelhas de tesoura
e o encontro pechador.

Aí as lembranças voltam
ao contra-rastro da vida,
engarupando os recuerdos
de um tempo que dava gosto;
E as emoções de campeiro
vem talonear as razões,
pra alma xucra verter
pelas ladeiras do rosto!

Só quem tem campo na alma
pode melhor entender;
Quando a espora da saudade,
afiada de distância,
encabrestada de ausência,
ao esporear os recuerdos
o quanto pode doer.

Ao lerdo tranco da vida,
sem alce para os sorrisos
onde mamava a ilusão,
que arrinconou já faz muito,
pelos recantos dormidos
nos pelegos da emoção.

Caramba! Não há mais tempo,
de embuçalar novos sonhos
na forma das alegrias
que deixaste na querência;
-A vida apeou saudade,
distanciou a mocidade
para encontrar tua ausência.

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