Que noite braba lá
fora ...
Releio versos
antigos,
delatores de outros
tempos,
nos quais a alma
bordava
- em tecidos de
ilusões -
sonhos em lindos
matizes
que pareciam tão
fáceis
de pateá-los de à
cavalo.
Pico um naco devagar
e o sentimento de
xucro
me faz crescer a
garganta!
Restevas de mocidade
nas dobras do
pensamento!
O meu cavalo
arrepiado
- sob este teto de
zinco
que deixa escapar
goteiras -
as orelhas de ouvir
longes
e uma pata
descansada,
balança a linda
figura
na sombra que a
lamparina
- movida ao sopro das
frestas -
esparrama no galpão.
Alguns jujos
pendurados
perto à cambona
furada
onde a corruíra fez
ninho!
O cusco procura a
volta
por um lado, para
outro
- dá uma puchada na
terra -
de um buraquito
redondo
- que ele abriu perto
do fogo -
e se enrodilha de
novo,
como quem vira os
pelegos
e pega a volta do
poncho
se acomodando no
catre.
O vento insiste,
forceja ...
- um trago forte,
outro mate -
e uma pitada mais
lenta!
Este meu poncho
judiado
- um companheiro de
sempre -
e o par-de-botas
molhado
- sola queimada do
estribo
e dos aros das
esporas –
fazem parte do
cenário
que o mundo bruto, lá
fora,
reproduz em preto e
branco
na tela humilde e
soturna
estirada em quatro
esteios
de cerne de
coronilha.
Junto ao tição de
espenilho
a cambona ensaia um
canto
como pedindo
silêncio!
Na velha trempe de
arame
- meio cilhona do
fogo -
o sangrador vai
tostando
- como um remendo de
morte
na prova da estupidez
–
goteando lentos
protestos
como se a dor
respingasse
- em lágrimas, pela
vida –
abrindo fumos de luto
no frágil painel de
cinzas
entre o rubor dos
tições!
Quedou-se muda a
guitarra
ao recostar nos
arreios
sua alma de vidala;
Pois nos momentos de
prece
somente a quietude
fala!
Pai nosso que estais
no céu
precisai vir aos
galpões !
Nestes silêncios que
tenho
fico granando
esperanças
embonecadas há tempo
nas hastes do
coração;
Pois quem vive de à
cavalo
e tem apenas
domingos,
precisa enganar
tristezas
multiplicando as
pisadas
das quatro patas do
pingo.
Quem pouco entende
este mundo,
cria basteiras em si;
e procura arrinconar
- nas emoções
contrariadas –
amenidades vividas
- para iludir a razão
–
como quem usa um
pelego,
que foi sovado a
capricho,
pra moldar bem os
arreios
quando se aperta o
cinchão.
A chuva timbra o
agosto
com ganas de arrasar
mundo,
e os cinamomos
corpeam
como quem tenta
escapar
de punhaladas que o
vento
- com planchaços de
friagem
lhes acaba de
acertar!
A casuarina repete
o que aprendeu com os
ventos
em consertos
milenares;
Qual um músico no
escuro
- com dedos
encarangados -
sóbrio, nostálgico e
só,
tocando em flauta
dolente
a melodia que o tempo
escreveu na partitura
alongando a nota dó!
Pai nosso que estais
no céu,
fazei voltar as
estrelas
e as luas brandas,
inteiras
-Refletidas nos
serenos –
entre os mágicos
aromas
que a primavera
semeia
nos pastiçais destes
campos.
Trazei de volta a
alegria
dos cardeais abrindo
o canto
entre galhos
florecidos…
e a ingenuidade
festiva
dos cordeiros retoçando
sobre os trevais das
ladeiras…
Que noite braba lá
fora…
componho o mate e
prossigo
mirando a vida, de em
pêlo,
-tranquear em rumo
confuso-
no lombo duro do
tempo!
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